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Sobre o livro "Por que a psicanálise"

  • Foto do escritor: Cibele Scarpelin
    Cibele Scarpelin
  • 15 de jan. de 2020
  • 3 min de leitura

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Imagine a seguinte cena: uma pessoa começa a perceber que não está se sentindo bem há algum tempo. Está sem energia, esgotada e ansiosa. Ela comenta sobre isso com alguém que diz "É depressão!" e orienta a pessoa a procurar um psiquiatra.


Essa cena é recorrente. Pense um pouco: Você conhece alguém diagnosticado com depressão? Provavelmente a resposta foi sim. De onde vem esse diagnóstico? Por que os tratamentos químicos são a primeira alternativa para o sofrimento psíquico?


São questões como essas que a autora Elisabeth Roudinesco vai questionar no livro "Por que a psicanálise?". Ela começa fazendo o diagnóstico de que estamos em uma sociedade depressiva, em que a depressão tornou-se uma epidemia. Ao mesmo tempo, multiplicou-se os tratamentos que tentam oferecer alívio aos sintomas.


A autora mostra, ainda, como esses tratamentos valorizam muito mais uma normalização dos comportamentos e a eliminação do do conflito psíquico. Porém, com tantas formas de tratamento surgindo, vemos um certo fracasso dessas terapias, que não conseguem curar o sujeito nem saber as verdadeiras causas de seu sofrimento.


Sobre os "medicamentos do espírito", Roudinesco esclarece como eles tentam eliminar os sintomas mais dolorosos, porém sem buscar uma significação. Ela traz um exemplo interessante:



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"(...) Assim, o sujeito que se julga impotente toma Viagra para pôr fim a sua angústia sem jamais saber de que causalidade psíquica decorre seu sintoma, ao passo que, por outro lado, o homem cujo membro é realmente deficiente também toma o mesmo medicamento, para melhorar seu desempenho, mas sem jamais apreender de que causa orgânica decorre sua impotência. O mesmo se aplica à utilização dos ansiolíticos e dos antidepressivos. Uma dada pessoa 'normal', atingida por uma série de infortúnios - perda de uma pessoa próxima, abandono, desemprego, acidente -, vê ser-lhe receitado, em caso de angústia ou situação de luto, o mesmo medicamento receitado a outra que não tem nenhum drama para enfrentar, mas apresenta distúrbios idênticos em virtude de sua estrutura psíquica melancólica ou depressiva:'Quantos médicos', escreveu Édouard Zarifian, 'receitam tratamentos antidepressivos a pessoas que estão simplesmente tristes e desiludidas, e cuja ansiedade levou a uma dificuldade de dormir!'"(Roudinesco, p 24).


Outro aspecto que a autora aponta é que estamos vivendo em uma sociedade competitiva, baseada no sucesso material. O conflito psíquico é, portanto, considerado indesejável e é preferível entregar-se a substâncias químicas do que enfrentar as origens do sofrimento que causam angústia e vergonha. Ninguém tem tempo para se ocupar da longa duração de um tratamento psicanalítico, se comparado ao uso de um medicamento ou outras promessas mais rápidas de tratamento.


Nesse livro, Roudinesco trata questões relativas à história da psicanálise e sua relação com os outros tipos de tratamentos, além de fazer uma análise sobre o sofrimento na sociedade contemporânea. A autora nos mostra como a psicanálise é muito criticada mas que sua trajetória é a tentativa de lutar contra pretensões de reduzir o ser humano a um ser unicamente biológico, valorizando a história singular de cada sujeito.



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"Longe de contestar a utilidade dessas substâncias e de desprezar o conforto que elas trazem, pretendi mostrar que elas não podem curar o homem de seus sofrimentos psíquicos, sejam estes normais ou patológicos. A morte, as paixões, a sexualidade, a loucura, o inconsciente e a relação com o outro moldam a subjetividade de cada um, e nenhuma ciência digna desse nome jamais conseguirá pôr termo a isso, felizmente"(Roudinesco, p. 09)."


 
 
 

2 comentários


Cibele Scarpelin
Cibele Scarpelin
15 de jan. de 2020

Obrigada pelo comentário Karol! Um beijão

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Karol Lopes
Karol Lopes
15 de jan. de 2020

Achei muito interessante a abordagem desse livro, principalmente por por em cheque a grande questão que afeta todo ser humano, que é o estado interior de cada um ,e que por trás de um sentimento de angústia, pode esconder além de uma depressão, uma raiz muito mais profunda que precisa ser analisada com atenção.

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